sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Direito à preguiça e acesso à ciência.

Exite um trabalho do Paul Lafarge, O Direito à Preguiça. É curioso que quando comento sobre isso quase todo mundo tende a me olhar feio. Interessante que como o próprio autor descreve: "tentam impôr um enobrecimento do trabalho, uma dignidade que não é real. Nunca vi ninguém voltar dum turno de 8horas com uma cara dígna."

É realmente disseminada essa noção de que temos que trabalhar muito, que querer descansar é sinal de fraqueza, que se contentar com o mínimo necessário à sobrevivência é sinônimo de dignidade. Enquanto isso, aqueles que disseminam esse tipo de ideologia podem passar o dia longe de jornadas insanas e trabalhos pesados.

Eu sou um dos que estão longe dos trabalhos pesados. Minha opção de vida foi pela ciência e a educação, não é carregar pedra, nem soldar carro, mas é uma jornada longa.

Para mim tem várias interseções entre "O Direito à Preguiça" e o trabalho científico. Primeiro que para alguém ter tempo de pensar em ciência, tem uma porção de gente que tem que estar ocupada plantando feijão.

Mas a intersecção mais importante é que o desenvolvimento científico deveria ser retribuido de maneira à facilitar a vida de todos, não do grupo privilegiado com dinheiro para usufruir do avanço.

Muitos vão questionar nesse ponto: Mas quem investiu em ciência tem o direito de ter o retorno.

E eu não poderia estar mais de acordo, mas quem investe em ciência? A grande maioria do dinheiro investido em ciência é público. Mesmo nos Estados Unidos (pátria mãe do capitalismo selvagem) o grosso do financiamento da ciência é público e nada seria mais justo que todos pudessem usufruir desses benefícios.

Entretanto, a realidade está longe disso, quando um avanço científico permite dobrar a capacidade produtiva das pessoas, metade da mão de obra é demitida, enquanto se pensarmos direito, todos deveriam ter a jornada reduzida para poderem aproveitar mais um pouco da vida ao redor.

Ir mais ao cinema, teatro, tocar um instrumento, praticar esportes, passar mais tempo com os filhos, estudar algo de interesse.

A ciência está cada vez mais enfurnada em sua torre de marfim, buscando patentes para beneficiar um grupo pequeno ou uma economia de mercado.

Gosto desse assunto, devo escrever mais algum dia.

2 comentários:

  1. O problema das parcerias com a iniciativa privada é que o investimento da parte pública sempre é subestimado. E com isso, nunca há retorno para o público. No projeto das ESTs da cana, que sempre aparece como exemplo de parceria público-privada, o investimento público foi 100%. A Coopersúcar só fez o favor de disponibilizar algumas linhagens para a parte pública do acordo fazer toda a caracterização genética... humm, parceria legal, tipo eu faço o favor de deixar você fazer todo o trabalho do meu interesse com o seu dinheiro... por aí vai.

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  2. Tem também os R$ 50 milhões que a FINEP investiu na Allelyx e Canavialis. Receberam o dinheiro e venderam a companhia para a Monsanto. Retorno público? Talvez o problema maior não seja o isolamento da ciência (a torre de marfim), mas a falta de honestidade mesmo. Desculpe ter escrito demais...

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