Quando eu era criança a Universidade de São Paulo era praticamente o meu quintal. Nunca fui muito "rueiro", gostava mais de brincar em casa, mas mesmo assim muitas lembranças boas são relacionadas à Cidade Universitária.
Aos sábados e domingos juntava muita gente na USP.
A praça do relógio era plana. Tinham vários campos de futebol na terra batida, um do lado do outro. Lembro que uma vez juntamos dois times de crianças e fomos cedo pra ocupar um desses campos, pouco tempo depois dois times uniformizados de adultos barrigudos (malditos adultos) nos expulsaram de lá.
Aprendi a andar de bicicleta na praça próxima ao CEPEUSP, pouco antes de tomar meu primeiro tombo feio. Eu e meu irmão acompanhávamos minha mãe em caminhadas no bosque ao lado da Física. Lembro de empinarmos uma pipa linda de dragão, toda colorida, feita com um tipo de celofane, que meu tio deu de presente pro meu irmão.
A rua do Matão não tinha lombadas e não sei como nenhum amigo morreu na curva, considerando o quão rápido íamos de bicicleta.
Um certo dia a Reitoria alegou que a USP não tinha estrutura para lidar com os visitantes de final de semana. Não tinham banheiros públicos suficientes nem pessoal para orientar os visitantes e/ou monitorar as instalações. Usando os assaltos e danos ao patrimônio como motivo a USP foi fechada para reformas.
Quando a reforma terminou, ao invés de banheiros públicos e monitores, muros e seguranças. Os campos de futebol da praça do relógio deram lugar a um projeto paisagístico duvidoso.
E assim a Universidade de São Paulo se fechou a comunidade.
Recentemente vejo cada vez mais pessoas utilizando a USP de final de semana, mas as pessoas que estão lá me irritam. Fiquei me questionando se era por que eles estavam se divertindo, enquanto eu ia trabalhar, mas hoje tive certeza que não.
As pessoas que estão empacando meu caminho enquanto eu tento chegar ao trabalho num final de semana não são crianças aprendendo à andar de bicicleta sem rodinhas enquanto o pai segura o banco, mas 15 à 20 marmanjos de colant que ocupam as 3 faixas da avenida, com bicicletas que deve custar mais caro que um carro. Caralho, eles nunca ouviram falar em andar em fila?
O que me irrita é que a USP não abre para crianças com pipas, ou times amadores de futebol, mas abre para pessoas de carro, com camisetas dry fit patrocinadas pelo Pão de Açucar ou alguma outra empresa. A USP continua não sendo uma opção de lazer para a população de São Paulo, mas um espaço pago/negociado para fitness.
Olha só... nem falei de comida.
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